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análise: discussões sobre a aplicabilidade do conceito de escalas nas pesquisas sobre formação de professores
O uso das tecnologias digitais para o controle da evasão discente no ensino superior em Educação a Distância (EAD)
Rev. Hipótese,
Bauru, v. 8, e022011, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2446-7154
DOI: https://doi.org/10.47519/eiaerh.v8.2022.ID407
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GÊNERO E EDUCAÇÃO ESCOLAR: MANUTENÇÃO OU RUPTURA
DO MUNDO BINÁRIO?
GÉNERO Y EDUCACIÓN ESCOLAR: ¿MANTENIMIENTO O RUPTURA
DEL MUNDO BINARIO?
GENDER AND SCHOOL EDUCATION: MAINTENANCE OR RUPTURE
OF THE BINARY WORLD?
Ivan FORTUNATO
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo
e-mail: ivanfrt@yahoo.com.br
Como referenciar este artigo
FORTUNATO, I. Gênero e educação escolar: Manutenção ou ruptura do mundo binário?
Revista Hipótese
, Bauru, v. 8, e022011, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2446-7154. DOI:
https://doi.org/10.47519/eiaerh.v8.2022.ID407
Submetido em
: 13/06/2021
Revisões requeridas em
: 09/09/2021
Aprovado em
: 15/09/2021
Publicado em
: 01/01/2022
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análise: discussões sobre a aplicabilidade do conceito de escalas nas pesquisas sobre formação de professores
Ivan FORTUNATO
Rev. Hipótese,
Bauru, v. 8, e022011, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2446-7154
DOI: https://doi.org/10.47519/eiaerh.v7.2021.ID52
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RESUMO
: Este ensaio, busca elementos para entender melhor a relação gênero e educação
escolar. Trata-se de uma escrita que pinça passagens colhidas da literatura especializada, com
o objetivo de tracejar o contexto sobre o qual se pode discutir questões mais profundas sobre
gênero, escola e docência. Assim, o objetivo geral deste escrito é delinear argumentos a favor
da educação escolar como forma de compreensão-reflexão-ação para combater, quiçá superar,
o binarismo social mulher-homem, gerador de tantos preconceitos e redutor de tantos Direitos
Humanos.
PALAVRAS-CHAVE
: Diversidade. Escola. Transformação.
RESUMEN
: Este ensayo busca elementos para comprender mejor la relación entre género y
educación escolar. Es un escrito que recoge pasajes extraídos de la literatura especializada,
con el objetivo de trazar el contexto en el que se pueden discutir temas más profundos sobre
género, escuela y enseñanza. Así, el objetivo general de este trabajo es esbozar argumentos a
favor de la educación escolar como forma de comprensión-reflexión-acción para combatir,
quizás superar, el binarismo social mujer-hombre, generador de tantos prejuicios y reductor
de tantos Derechos Humanos.
PALABRAS CLAVE
: Diversidad. Escuela. Transformación.
ABSTRACT
: This essay seeks elements to better understand the relationship between gender
and school education. It is a writing that picks up passages taken from specialized literature,
with the aim of tracing the context in which deeper issues about gender, school and teaching
can be discussed. Thus, the general objective of this paper is to outline arguments in favor of
school education as a form of understanding-reflection-action to combat, perhaps overcome,
the woman-man social binarism, generator of so many prejudices and reducing so many Human
Rights.
KEYWORDS
: Diversity. School. Transformation.
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Gênero e educação escolar...
A diferença não pré-existe nos corpos dos indivíduos para ser simplesmente
reconhecida; em vez disso, ela é atribuída a um sujeito (ou a um corpo, uma
prática, ou seja lá o que for) quando relacionamos esse sujeito (ou esse corpo
ou essa prática) a um outro que é tomado como referência. Portanto, se a
posição do homem branco heterossexual de classe média urbana foi
construída, historicamente, como a posição-de-sujeito ou a identidade
referência, segue-se que serão diferentes todas as identidades que não
correspondam a esta ou que desta se afastem. A posição normal é, de algum
modo, onipresente, sempre presumida, e isso a torna, paradoxalmente,
invisível. Não é preciso mencioná-la. Marcadas serão as identidades que dela
diferirem [...] a diferença não é natural, mas sim naturalizada. A diferença é
produzida através de processos discursivos e culturais. A diferença é ensinada.
(LOURO, 2008, p. 22, grifos da autora).
Este texto, escrito na forma de ensaio, busca elementos para entender melhor a relação
gênero e educação escolar. Trata-se de uma escrita que pinça passagens colhidas da literatura
especializada, com o objetivo de tracejar o contexto sobre o qual se pode discutir questões mais
profundas sobre gênero, escola e docência. Assim, o objetivo geral deste escrito é delinear
argumentos (embora ainda incipientes, retirados parcialmente da experiência vivida como
professor formador, atuando diretamente na formação inicial e continuada de docentes da
educação básica) a favor da educação escolar como forma de compreensão-reflexão-ação para
combater, quiçá superar, o binarismo social mulher-homem, gerador de tantos preconceitos e
redutor de tantos Direitos Humanos.
É preciso reiterar que os estudos de gênero não são novos: os clássicos de Margaret
Mead (1949) e de Simone de Beauvior (1980), publicados ainda na primeira metade do século
passado, evidenciam que a preocupação com questões de gênero é bem anterior a diversos
movimentos sociais recentes. Dentre esses, por exemplo, estão as notórias “Paradas do Orgulho
Gay
” que começaram a se popularizar nos Estados Unidos e em alguns países da Europa no
final da década de 1980 e, no Brasil, no final do século passado.
Outro fato importante é que os estudos de gênero não são nada escassos. Isso pode ser
comprovado pela enorme quantidade de trabalhos publicados sobre o tema que, para além de
livros de referência, como “Problemas de Gênero”, de Judite Butler (2003), há uma infinidade
de periódicos, nacionais
1
e internacionais, que se dedicam exclusivamente ao tema e os seus
desdobramentos: direitos, preconceitos, violência, feminismo, sexualidade etc.
Conquanto vão se criando e ampliando os movimentos sociais, seja na forma de “rede”
1
Somente na base
webqualis
da CAPES é possível encontrar mais de 15 periódicos que têm a palavra gênero no
nome; acesso em set. 2021.
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ou “mobilização social” (GOHN, 2008), de “indignados” (GOHN, 2019) ou dos
“coletivos”
(GOHN; PENTEADO; MARQUES, 2020), também os estudos vão se ampliando, tomando
conta de espaços acadêmicos específicos, gerando núcleos de pesquisa e grupos de estudos e
inúmeras teses e dissertações
2
. A quantidade e qualidade de movimentos sociais e seus
militantes também vão aumentando exponencialmente, atraindo cada vez mais adeptos,
seguidores e interessados em construir uma sociedade mais livre, justa, tolerante e de direitos
iguais. Mesmo assim, os números de violência e morte não têm reduzido; pelo contrário. Dados
referentes à violência contra a mulher (WAISELFISZ, 2015) e contra pessoas LGBTI
3
(GGB,
2016) apenas revelam que a intolerância persiste (e em muitos casos até aumenta), apesar do
fomento dos movimentos sociais e da produção acadêmica. O que é até compreensível, se
entendermos que agitar águas aparentemente calmas faz emergir o que se esconde no fundo: o
lado de sombra do social, sedimentado pela ideologia dominante.
Nesse aparente paradoxo, temos algumas práticas sociais intervindo negativamente
nos movimentos sociais e nos estudos acadêmicos, de forma a não permitir cessar a violência
banal, pautada em estereótipos e tabus culturais. Dessa forma, um dos obstáculos à tolerância
pode estar, justamente, em comportamentos cristalizados da sociedade que separam os homens
das mulheres em diversas situações, os quais se tornam senso-comum também na educação
escolar, pois foram incorporados dolosa e/ou silenciosamente ao longo do tempo pelos
membros de sua própria comunidade.
Vejamos o estudo de Pereira e Mizusaki (2015) como exemplo. As autoras aplicaram
um questionário a estudantes de um curso de licenciatura em Pedagogia, cujos resultados
apontaram que a maioria presenciou a questão de gênero na escola apenas por meio de piadas
entre colegas, no formato de
bullying
, mas afirmaram não ter tido nenhuma discussão séria a
respeito antes de ingressarem na universidade. Talvez, por isso mesmo, a maioria desse alunado
conceituou gênero como um processo histórico de divisão binária homem-mulher. Sendo o
bullying
uma manifestação clara de qualquer tipo de preconceito, é uma pena que na maioria
das vezes a escola ignore-o como uma excelente oportunidade de reflexão e de estudo sobre o
porquê de sua emergência no grupo de estudantes. E às vezes até dos docentes...
2
Podemos citar o trabalho de Vianna
et al
(2011), que teve como objetivo mapear a produção acadêmica nacional
sobre educação, gênero e sexualidade entre os anos de 1990 e 2006, reconhecendo seu crescimento. Além disso,
importante anotar que busca simples no Banco de Teses e Dissertações da CAPES, realizada em janeiro de 2020,
encontrou quase oito centenas de trabalhos com o descritor “estudos de gênero” defendidos nos últimos 10 anos.
O número cai para 26 quando se busca “estudos de gênero” AND “formação de professores”.
3
Já houve momento na história em que a sigla era GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes). Assim como a
compreensão da diversidade evoluiu, a sigla também, sendo a mais atual LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Transexuais, Queer, Intersexo, Assexual e outras variações de sexualidade e gênero).
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Aliás, gênero é uma palavra altamente complexa. Joan Scott (1995) já havia alertado
para o fato de que o termo se tornou, em várias publicações, sinônimo de
mulheres
. Nessas
publicações, o termo passou a designar as contradições a que se submetem (e se sujeitam) as
mulheres às circunstâncias do universo de dominação e opressão dos homens. Mas, afirma a
autora,
gênero
é diferente de
feminismo
, por isso não devem ser tomados como unívocos.
Embora os estudos de gênero tenham emergido de empreendimentos feministas nas
reinvindicações por direitos iguais, registra Scott (1995), o conceito de gênero não tem nada a
ver com a biologia humana dos cromossomos sexuais
x
e
y
(mulheres dão à luz e os homens
são fisicamente mais fortes), mas aos papéis que são atribuídos aos homens e às mulheres. Por
outro lado,
feminismo
é o movimento específico das mulheres pela reivindicação e respeito aos
seus direitos.
Esses papéis sociais/sexuais aparecem no texto de Alícia Fernandez (1994) sob a ideia
de “formas culturais”, entendidas como um processo de construção sociocultural baseado em
prescrições sobre jeitos de falar e agir como homem
ou
como mulher, condicionados à biologia
de cada pessoa
–
daí a ênfase dada à conjunção alternativa
ou
, não sendo possível nada híbrido.
As “formas culturais”, explica a autora, ao polarizarem as atitudes e os modos de ser apenas em
coisa de homem
ou
coisa de mulher, cerceiam a identidade das pessoas e abrem caminho à
discriminação, ao preconceito, à intolerância e a violência, tanto física como simbólica. Tais
prescrições das “formas culturais” são perigosas, contudo, socialmente aceitas –
mesmo que de
forma silenciosa
–
e reforçadas por processos culturais, dentre outros a educação escolar.
Assim, é possível qualif
icar as “formas culturais” como criadoras de estereótipos, aqueles mais
rudimentares mesmo, como a mulher sendo frágil e sensível, almejando nada além da
maternidade e as responsabilidades de cuidar dos filhos e do lar.
O artigo “Representações de corpo
-i
dentidade em histórias de vida”, escrito por Souza
(2000), por exemplo, indica que há nas figuras de professores e de professoras representações
que reforçam tais estereótipos. Além disso, a autora explica que, salvo exceções, não há nada
na escola capaz de contrariar, criticar ou refletir sobre a determinação biológica da cultura
binária homem
ou
mulher. Assim, podemos voltar à Foucault (1988) e suas observações sobre
repressão, criação e manutenção de estereótipos como elementos históricos. Além disso, relatos
mais recentes, como os que foram colhidos por Costa e Vianna (2018), ratificam a permanência
das “formas culturais”, particularmente essas sobre as mulheres como responsáveis pelos
cuidados da casa e dos filhos, não podendo estudar ou trabalhar, pois isso implica
abandonar
seu próprio lar, seu marido e sua prole. Ou, diríamos, jogando sobre elas uma grande carga de
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culpa, quando por escolha ou necessidade fogem desses padrões.
Por mais “moderna” que a sociedade seja –
duplo sentido proposital, indicando
vanguarda e a ideação tríplice da modernidade de igualdade, fraternidade e liberdade
–
, ainda
se mantêm os ranços da superioridade masculina culturalmente construída. Isso aparece nos
elevados números de violência (incluindo assassinatos), preconceito e discriminação, conforme
compilados por Reis e Eggert (2017). E, paradoxalmente, quanto mais se reforçam os
movimentos pela igualdade de direitos, aparentemente esse número parece aumentar. A mídia
nos relata cotidianamente eventos de discriminação, desrespeito, violência contra mulheres,
gays
, transexuais etc. A ideia que vem à mente é a desses balões de ar que, quando apertados
de um lado, aumentam de tamanho no outro.
Contudo, isso se revela, muitas vezes, de forma taciturna no cotidiano. Quando se
adentra uma loja para se adquirir um brinquedo, por exemplo, geralmente a primeira pergunta
feita pelo atendimento é “para menino ou para menina?”, pois há duas seções distintas nas lojas,
separadas por “gênero”. Isso também acontece com roupas e outros acessór
ios, como uma
simples capa de proteção para celular: aquelas com muito brilho, flores, corações, animais
fofos, personagens delicados e cor de rosa são adornos para meninas, mulheres e homens
afeminados.
França (2009, p. 18) registrou isso de forma clara:
“não são as características sexuais,
mas sua representação e/ou valorização que constroem as identidades femininas e masculinas.
Essas identidades não são naturais, são construções humanas”. Assim, qualquer forma diferente
do padrão estereotipado de mulher feminina-mãe e homem provedor-macho é qualificada como
“desvio de conduta”, podendo/devendo ser consertada. E como isso se perpetua na sociedade?
Por meio de seus ritos, tendo, segundo a autora, a escola como instituição aliada para
manutenção da normali
dade: “a escola se destaca por promover a fixidez de uma
identidade
feminina
voltada às alunas e uma
identidade masculina
voltada aos alunos, ambas tidas como
naturais
” (p. 37, grifos da autora). Para França (2009), a escola ensina os significados e as
atitudes de ser menino e de ser menina, incluindo aspectos morais dessa evidente segregação
entre os papeis sociais.
Quase sempre, reitera-se, essa moralidade é aquela instituída pela família chamada de
“tradicional”, cuja tradição recai sobre a ideia de famí
lia centrada no pai-provedor e na mãe-
do-lar-que-cuida-das-crianças, ou seja, a tradição do machismo, do patriarcado, da opressão.
Embora afirmar isso já seja lugar comum, vale retomar o texto de Louro (2000, p. 16), no qual
a autora registra que “a despei
to de todas as oscilações, contradições e fragilidades que marcam
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esse investimento cultural”, recuperando o histórico de lutas em prol de uma vida social menos
segregadora e menos opressora, “a sociedade busca, intencionalmente, através de múltiplas
estra
tégias e táticas, ‘fixar’ uma identidade masculina ou feminina ‘normal’ e duradoura”.
Dentre tais estratégias, a autora chama atenção para o fato de que as crianças aprendem (pela
família, pela televisão, pela igreja, pela internet etc.) “desde muito cedo,
piadas e gozações,
apelidos e gestos para dirigirem àqueles e àquelas que não se ajustam aos padrões de gênero”
(p. 19).
Ousa-se afirmar, no entanto, que há formas culturais ainda anteriores a esses escárnios
aprendidos na infância. Recuperamos uma anedota ouvida (ou talvez lida) muitos anos atrás,
cujo final inesperado [um dos artifícios do humor para se alcançar o riso] revela outra estratégia
para fixar as identidades. Diz-se que dois recém-nascidos estavam lado a lado na maternidade
quando um bebê chama a atenção de outro, dizendo ser um menino. A curiosidade do outro é
aguçada, questionando os motivos para tal assertiva. O primeiro, o autodeclarado menino,
ordena para que olhem “para baixo” e, ao fazer, ambos não contemplam seu sexo (o que seria
o esp
erado), mas descobrem seu “cobertor azul”.
Vimos, então, Reis e Gomes (2011) declarando que há certa
sutileza
nas questões de
gênero, como se a segregação entre homens e mulheres, criada pelas formas culturais, fosse
mantida por gestos simbólicos “inconscientes” e até mesmo “inocentes”. Cita como exemplo o
fato de se presentear uma menina com uma boneca, “perpetuando a ideia de que a menina
deverá ser bonita como uma boneca e tomar conta de alguém como de um filho” (p. 507). Mas,
o que há de inconsciente nessa atitude? A pessoa que presenteia uma menina com uma boneca
não faria o mesmo com um menino, ou seja, um brinquedo representando um bebê que chora
precisa ser alimentado, ter suas fraldas trocadas etc. Afinal, por que alguém faria isso, se brincar
de bonecas é
coisa de menina
? E que mensagem se estaria pretendendo passar aos pais,
familiares e amigos, caso presenteasse o pequeno júnior com um brinquedo
de menina
?
Parece que essa coisa seria uma provocação séria, mas incapaz de promover a ruptura
do que é normativo para as questões de gênero. Tal provocação permaneceria na superfície da
coisa, pois o sentido de certo
ou
errado um menino brincar de bonecas permanece no nível
inconsciente das pessoas e da sociedade não sendo trazido à tona, a não ser em discursos
elaborados, mas que não atingem essa profundidade. Não “mexe” realmente no nível afetivo,
onde se enraízam os valores, os preconceitos, os mitos, os medos etc. Assim, não haveria
sentido algum, dentro dessa atmosfera social de divisão entre as atitudes esperadas para os
meninos e as meninas, ainda no berço, promover essa “inversão”. Afinal, presentar um menino
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com uma boneca é inverter as expectativas para o recém-nascido varão, prenunciando que o
garoto será marginalizado, por se tornar afeminado quando crescer, portanto, incapaz de se
tornar um homem provedor. Dessa maneira, não faz mesmo sentido algum esse tipo de atitude,
assim como presentear uma menina recém-nascida com uma bola de futebol ou alguma roupa
de cor azul.
Todas essas questões sobre ser menino ou ser menina ANTES MESMO de SER
HUMANO foi, de certa maneira, muito bem capturada por Berenice Bento (2011), ao descrever
todo o ritual que envolve a expectativa do nascimento de uma nova pessoa, principalmente a
inquietação de se descobrir, logo, seu sexo, para que a família já se organize muito antes do
parto, pois gestar, dar à luz e criar uma criança envolve atitudes e valores distintos de acordo
com o pênis ou a vagina. Eis as palavras da autora:
Observe uma mulher grávida. Conforme os meses passam, aumenta a
ansiedade para saber o sexo da criança. Quando o sexo da criança é revelado,
o que era uma abstração passa a ter concretude. O feto já não é feto, é um
menino ou uma menina. Essa revelação evoca um conjunto de expectativas e
suposições em torno de um corpo que ainda é uma promessa [...] A
materialidade do corpo só adquire vida inteligível quando se anuncia o sexo
do feto. Toda a eficácia simbólica das palavras proferidas pelo/a médico/a está
em seu poder mágico de gerar expectativas que serão materializadas
posteriormente em brinquedos, cores, modelos de roupas e projetos para o/ a
futuro/a filho/a antes mesmo de o corpo vir ao mundo. Quando a criança
nasce, encontrará uma complexa rede de desejos e expectativas para seu
futuro, levando-se em consideração para projetá-la o fato de ser um/a
menino/menina, ou seja, ser um corpo que tem um/a pênis/vagina. Essas
expectativas são estruturadas numa complexa rede de pressuposições sobre
comportamentos, gostos e subjetividades que acabam por antecipar o efeito
que se supunha causa. Os brinquedos, as cores das roupas e outros acessórios
que comporão o enxoval são escolhidos levando-se em conta o que seria mais
apropriado e natural para uma vagina e um pênis. No entanto, como é possível
afirmar que todas as crianças que nascem com vagina gostam de rosa, de
bonecas, de brinquedos que não exigem muita força, energia e inteligência?
Aquilo que evocamos como um dado natural, o corpo-sexuado, é resultado
das normas de gênero. Como afirmar que existe um referente natural, original,
para se vivenciar o gênero, se ao nascermos já encontramos as estruturas
funcionando e determinando o certo e o errado, o normal e o patológico? O
original já nasce “contaminado” pela cultura. Antes de nascer, o co
rpo já está
inscrito em um campo discursivo (BENTO, 2011, p. 550).
Essa longa citação fez-se necessária, pois seu conteúdo revela que o mundo binário
homem-mulher faz parte de um senso-comum combatido pela literatura acadêmica e pelos
movimentos sociais. Ambos se desenvolvendo no nível racional e, mais uma vez, salvo
exceções, incapazes de atingir o nível mais profundo do inconsciente das pessoas, dos grupos
e da sociedade. No entanto, apesar de todas as denúncias contrárias, tudo o que foi apresentado
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pel
a autora ainda é atual. Se há dúvidas, basta digitar “chá revelação” no canal de buscas e
navegar pelos quase dez milhões de páginas recuperadas na pesquisa.
Assim, essa constatação apenas reforça o quanto o binarismo homem-mulher
(geralmente escrito nessa sequência) está presente no mundo, sendo tabu tratar as coisas de
forma diferente
–
ou alguém ousaria dar um vestido de presente a um menino recém-nascido?
Novamente, isso não teria sentido. Afinal, trata-se de uma afronta pela afronta, como se quisesse
provocar tal ruptura social por uma ação individual, localizada, sem sentido educativo ou de
promoção do movimento social. Eis o tabu: vestido é coisa de gênero, e gênero é coisa dada
pela biologia. Isso não se rompe dessa maneira. Entretanto, ninguém se horroriza quando o pai
veste sua garotinha com camisa de seu time de futebol.
Daí vem a seguinte dúvida: como, então, superar esse tabu? E não está em jogo se esse
tabu precisa ser superado, pois já se passou da hora de termos o reconhecimento da igualdade
de direitos entre as pessoas. Bento (2011, p. 555) reconhece o papel fundamental da escola
nessa diligência, contudo: “se apresenta como uma instituição incapaz de lidar com a diferença
e a pluralidade, [pois] funciona como uma das principais instituições guardiãs das normas de
gênero e produtora da heterossexualidade”. Infeliz e lamentavelmente, tal citação remete a uma
descrição apurada da escola como (re)produtora da sociedade binária homens-mulheres.
Embora a autora resguarde a escola, tomando-a não como uma instituição isolada, mas parte de
uma complexa engrenagem social, não é possível aceitar que o lugar da educação seja lugar da
discriminação, do preconceito, da exclusão, das chacotas, da violência, da manutenção de um
status quo
que impõem às pessoas modos de ser.
Reis e Gomes (2011), de certa maneira, assentem com a ideia de que a escola tem
servido de guardiã da divisão de gênero instalada na sociedade, agindo de maneira abertamente
segregadora com atividades distintas, de gênero, como aulas de balé só para meninas, futebol
apenas para os meninos etc., ou de maneira silenciada, mantendo a ideia de que os garotos são
mais bagunceiros e mais voltados para áreas de ciências, tecnologias e matemática, e as garotas
são mais quietas e devotas aos estudos das letras e das humanidades.
Por isso mesmo, a escola precisa, ainda, encontrar meios de superar a si mesma como
produtora dessas desigualdades e diferenças, pois essa distinção entre as crianças do sexo
feminino e do sexo masculino leva a uma espécie de desencorajamento generalizado, afastando
as meninas de futuras profissões voltadas às engenharias, ciências e tecnologias, ou a atividades
ditas masculinas, e os meninos do balé ou de outras atividades ligadas ao lado sensível da
personalidade.
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Assim a educação escolar vai contribuindo, silenciosamente - ou ruidosamente - com
a manutenção de uma sociedade patriarcal machista. Embora os números inventariados por Reis
e Gomes (2011) demonstrem que meninas têm superado os meninos tanto na quantidade de
matrículas como com pontuações maiores nos testes escolares, o mercado de trabalho continua
ainda basicamente sexista, com as vagas de melhor remuneração, mais prestígio, maiores
responsabilidades e poderes destinadas, na sua maioria, para homens. Nessa mesma direção,
Fúlvia Rosemberg (2001) já mencionava a necessidade de a educação escolar ser pensada além
dela mesma, pois de nada adianta um processo educativo mais igualitário, se fora dos muros
escolares tudo permanece como está
–
obviamente que nem o processo educativo igualitário foi
alcançado, mas é importante não perder de vista o contexto social.
De fato, alguns anos antes, Rosemberg (1994) já havia alertado sobre este tipo de
trabalho da educação escolar: a segregação ocupacional naturalizada (cultural, na verdade)
tende a promover uma escolarização também repartida, criando cursos, disciplinas, atitudes e
valores atribuídos artificial e forçosamente para garotos
ou
para garotas. Aliás, a autora chega
a postular a hipótese de que a desvalorização do trabalho do professorado, em termos de
respeito, salário e carreira, tem acompanhado a feminização da docência. Segundo Rosemberg
(1994), quanto mais mulheres em determinada ocupação, maiores as chances de precarização e
de condições adversas ao próprio trabalho. Eis mais um graúdo
–
contudo silencioso
–
problema
de discriminação de gênero de nossa sociedade que a escola precisa reconhecer para então
batalhar contra.
Isso faz parte da relação criada entre gênero e capitalismo, agindo em “simbiose”, nas
palavras de Cecilia Sardenberg (2015). A autora percebeu que as formas de opressão da
sociedade atuam juntas, se fortalecendo, dando sustentação aos “sistemas de estrati
ficação e
opressão interseccionados” (p. 56). Não é à toa, portanto, que o mercado de trabalho atua com
essa maneira de reforçar o patriarcado e vice-versa: ambos coadunam na manutenção do
status
quo
. Foi como bem anotou Miguel (2015, p. 1234): “Dominação
masculina e dominação de
classe são dois eixos centrais da estrutura social. Qualquer descrição densa do mundo social,
para não falar na busca por sua transformação, precisa avançar na compreensão de sua inter-
relação”.
Até aqui, então, já tratamos de fatos sociais segregadores e discriminatórios da
sociedade que interferem direta ou indiretamente na educação escolar em termos de gênero,
bem como lidamos com as dificuldades internas da escola em tratar com pessoas, pois antes se
busca uma divisão de atitudes, valores e preparação para o futuro pensando se são
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O uso das tecnologias digitais para o controle da evasão discente no ensino superior em Educação a Distância (EAD)
Rev. Hipótese,
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meninos/homens ou meninas/mulheres. Mas, há, ainda, como bem delineado por Carvalho
(2004) problemas a serem enfrentados em uma das mais importantes conexões sociedade-
escola: a família. A esse respeito
, a autora deixa registrado o seguinte: “A presença de um pai
é sempre surpreendente, pois todas as professoras, de escolas públicas e privadas, reportam a
presença predominante, quando não exclusiva, das mães nas reuniões de
pais e mestres
” (p. 46,
grifo da autora).
Nesse referido artigo, Carvalho (2004) apresenta várias denúncias sobre a relação da
família com a escola, a começar com a ideia de pais. É frequente o corpo diretivo e docente de
uma unidade escolar reclamar da ausência dos pais na vida escolar das crianças. Amiúde,
contudo, quem participa ou deixa de participar são as mães. A autora do artigo apresenta alguns
exemplos, retirados de uma novela da maior rede brasileira e de cartilhas distribuídas nas
escolas, nos quais existe a expectativa de que as mães acompanhem de perto o que seus filhos
e suas filhas fazem na escola em termos de rendimento, aprendizagem, tarefas, comportamentos
etc. A presença de um pai na escola é tida como algo surpreendente. Tão surpreendente que a
novela cria uma cena em que o único pai presente em uma reunião escolar é viúvo.
Com isso, caímos em mais uma armadilha de gênero pouco evidente: o cuidado das
crianças é responsabilidade materna, pois o pai não tem tempo, habilidades ou afetividade
suficientes para tal diligência. Esse é um modelo de família tanto fictício quanto em desuso,
seja pelo fato de as mulheres estarem participando cada vez mais do provento familiar, seja pela
sua participação no mercado de trabalho etc. E pela participação mais efetiva dos homens nas
“coisas do lar”. Carvalho (2004, p. 55) reforça a presença desse modelo estereotipado de
família, ainda reforçado pela mídia, anotando que existe uma expectativa de que “a obrigação
de acompanhar o dever de casa, de estimular os estudos e de dar afeto ao filho é só da mãe,
mesmo se esta trabalha o dia inteiro, como o pai”. Não obstante, a escola, que reforça essa
separação de responsabilidades entre as mulheres (mães) e os homens (pais), vai além,
mantendo a invisibilidade das mulheres ao reclamarem da ausência dos pais, ao manter uma
associação de pais e mestres ou mesmo convocando uma reunião de pais, contudo esperando
apenas a presença de mães.
Em artigo bem recente, Almeida e Ribeiro (2021) trazem mais um relato que vai ao
encontro dessa separação entre os papéis da mãe e do pai com relação à educação escolar, porém
de forma mais grotesca. Os autores contam sobre uma situação particular de um professor, do
sexo masculino, que havia separado uma briga entre pequenos, sendo que uma criança tinha
jogado brinquedos em outra criança. A mãe da criança mais violenta foi procurar o professor
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análise: discussões sobre a aplicabilidade do conceito de escalas nas pesquisas sobre formação de professores
Ivan FORTUNATO
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DOI: https://doi.org/10.47519/eiaerh.v7.2021.ID52
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na escola, sem nada resolver. Mais tarde, o pai da criança esperava o professor do lado de fora
do portão da escola, para resolver a situação “de homem para homem”, informando
ser
responsabilidade da mãe solucionar os problemas da escola. O professor que se recusa a brigar
é chamado de
viado
por estudantes mais velhos que presenciavam a cena. “O cotidiano está
encharcado de armadilhas para que se pense ser impossível remar contr
a as marés”, afirmam
Almeida e Ribeiro (2021, p. 321).
Nessa situação relatada, vimos que não apenas é delegada à mãe o papel de se envolver
com as situações de escola da criança, como o pai precisa resolver às coisas como homem,
sendo agressivo e machão. Quem foge à luta não é tido como alguém que quer lidar emocional
e racionalmente com as coisas da educação escolar, mas pejorativamente chamado por palavras
que historicamente rementem a homens-não-tão-homens. Pior, e mais lamentável, é que tal
relato não é um caso isolado, mas algo que vai se perpetuando na sociedade.
Em essência, das formas culturais à expectativa da participação apenas da mãe na
escola, ao se tratar da relação entre gênero e educação, não há como discordar de Vianna (2015,
p. 793) que, depois de duas décadas de militância e pesquisas, realizando levantamentos
diversos e aprofundados sobre tema, além de análises políticas voltadas ao currículo, afirmou
que “resta a impressão de que muito se tem por fazer”. E de fato falta mesmo; o artigo d
e Souza
e Souza (2021), publicado há poucos meses, continua trazendo afirmações repetidas. Isso
porque há décadas a situação não sai do discurso e se torna realidade concreta; afirmam os
autores que é preciso “ultrapassar os limites do conhecimento biológi
co e problematizar os
aspectos sociais, políticos e econômicos que perpassam a produção de conhecimentos na
escola” (p. 432).
Ou seja, a questão via de regra se resume a ficar no âmbito do estabelecimento do que
se
deve
fazer, embora o
como
fazer poucas vezes é abordado. A escola como um todo e seus
professores e professoras ainda não dispõem de estratégias para entender as questões de gênero
com profundidade, para depois enfrentar e tentar resolver os problemas de preconceito,
discriminação, cristalização dos tabus e ideias dominantes, e vai por aí afora. Talvez porque os
discursos se desenvolvem no nível racional, talvez racionalizado, das expressões da cultura
dominante, dominado, muitas vezes, por um alto grau de estereotipia.
Tanto na formação dos docentes quanto nas reuniões de professores e professoras no
âmbito escolar, é precária e até inexistente a imersão no nível que realmente move nossas ações,
o latente, o “lado de sombra”, onde se enraízam os valores, as crenças, os preconceitos, os
mitos, que só poderão ser trazidos à luz quando os diferentes espaços de formação e ação
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entenderem a necessidade de uma reflexão profunda sobre o papel da escola e do professor no
desenvolvimento de seus alunos. Reflexão que só é possível através da formação e do estudo
de campos do conhecimento ligados aos fundamentos do ato de educar. Em especial da
filosofia, da psicologia, da antropologia e da sociologia, que permitem o entendimento dos
modos de pensar, de sentir e de agir de pessoas e da sociedade.
Esta formação é perfeitamente possível, se encarada nos cursos de licenciatura como
fundamental, tanto quanto às práticas. O mesmo em relação à formação continuada. Porque a
preparação do docente sem a necessária formação humanística não permite um nível de reflexão
e de conscientização suficientes para impedir a perpetuação das mesmas práticas cristalizadas.
E a escola precisa ser outra: mais humana, mais solidária, mais inclusiva e mais diversificada,
pois acreditamos que, a partir dela, a sociedade possa vir a ser outra. É essa esperança que nos
move.
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Ivan FORTUNATO
Rev. Hipótese,
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Sobre o autor
Ivan FORTUNATO
Coordenadoria de Formação Pedagógica - IFSP.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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análise: discussões sobre a aplicabilidade do conceito de escalas nas pesquisas sobre formação de professores
Gender and school education: Maintenance or rupture of the binary world?
Rev. Hipótese,
Bauru, v. 8, e022011, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2446-7154
DOI: https://doi.org/10.47519/eiaerh.v8.2022.ID407
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GENDER AND SCHOOL EDUCATION: MAINTENANCE OR RUPTURE
OF THE BINARY WORLD?
GÊNERO E EDUCAÇÃO ESCOLAR: MANUTENÇÃO OU RUPTURA
DO MUNDO BINÁRIO?
GÉNERO Y EDUCACIÓN ESCOLAR: ¿MANTENIMIENTO O RUPTURA
DEL MUNDO BINARIO?
Ivan FORTUNATO
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo
e-mail: ivanfrt@yahoo.com.br
How to reference this article
FORTUNATO, I. Gender and school education: Maintenance or rupture of the binary world?
Revista Hipótese
, Bauru, v. 8, e022011, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2446-7154. DOI:
https://doi.org/10.47519/eiaerh.v8.2022.ID407
Submitted
: 13/06/2021
Review
: 09/09/2021
Accepted
: 15/09/2021
Published
: 01/01/202
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análise: discussões sobre a aplicabilidade do conceito de escalas nas pesquisas sobre formação de professores
Ivan FORTUNATO
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Bauru, v. 8, e022011, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2446-7154
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ABSTRACT
: This essay seeks elements to better understand the relationship between gender
and school education. It is a writing that picks up passages taken from specialized literature,
with the aim of tracing the context in which deeper issues about gender, school and teaching
can be discussed. Thus, the general objective of this paper is to outline arguments in favor of
school education as a form of understanding-reflection-action to combat, perhaps overcome,
the woman-man social binarism, generator of so many prejudices and reducing so many Human
Rights.
KEYWORDS
: Diversity. School. Transformation.
RESUMO
: Este ensaio, busca elementos para entender melhor a relação gênero e educação
escolar. Trata-se de uma escrita que pinça passagens colhidas da literatura especializada, com
o objetivo de tracejar o contexto sobre o qual se pode discutir questões mais profundas sobre
gênero, escola e docência. Assim, o objetivo geral deste escrito é delinear argumentos a favor
da educação escolar como forma de compreensão-reflexão-ação para combater, quiçá
superar, o binarismo social mulher-homem, gerador de tantos preconceitos e redutor de tantos
Direitos Humanos.
PALAVRAS-CHAVE
: Diversidade. Escola. Transformação.
RESUMEN
: Este ensayo busca elementos para comprender mejor la relación entre género y
educación escolar. Es un escrito que recoge pasajes extraídos de la literatura especializada,
con el objetivo de trazar el contexto en el que se pueden discutir temas más profundos sobre
género, escuela y enseñanza. Así, el objetivo general de este trabajo es esbozar argumentos a
favor de la educación escolar como forma de comprensión-reflexión-acción para combatir,
quizás superar, el binarismo social mujer-hombre, generador de tantos prejuicios y reductor
de tantos Derechos Humanos.
PALABRAS CLAVE
: Diversidad. Escuela. Transformación.
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Gender and school education: Maintenance or rupture of the binary world?
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Gender and school education...
Difference does not pre-exist in the bodies of individuals to be simply
recognized; rather, it is attributed to a subject (or a body, a practice, or
whatever) when we relate that subject (or that body or that practice) to another
that is taken as a reference. Therefore, if the position of the urban middle-class
white heterosexual man was historically constructed as the subject-position or
the reference identity, it follows that all identities that do not correspond to
this or that deviate from it will be different. The normal position is somehow
omnipresent, always assumed, and this makes it, paradoxically, invisible. No
need to mention it. The identities that differ from it will be marked [...] the
difference is not natural, but naturalized. Difference is produced through
discursive and cultural processes. The difference is taught (LOURO, 2008, p.
22, author’s emphasis
, our translation).
This text, written in the form of an essay, seeks elements to better understand the
relationship between gender and school education. It is a writing that picks up passages
collected from specialized literature, with the aim of tracing the context on which deeper
questions about gender, school and teaching can be discussed. Thus, the general objective of
this writing is to outline arguments (although still incipient, partially taken from the experience
lived as a teacher trainer, working directly in the initial and continuing education of teachers of
basic education) in favor of school education as a form of understanding-reflection-action to
combat, perhaps overcome, the social binarism between women and men, which generates so
many prejudices and reduces so many Human Rights.
It is necessary to reiterate that gender studies are not new: the classics by Margaret
Mead (1949) and Simone de Beauvior (1980), published in the first half of the last century,
show that the concern with gender issues predates several recent social movements. Among
these, for example, are the notorious “Gay Pride Parades” that began to become popular
in the
United States and in some European countries in the late 1980s and, in Brazil, at the end of the
last century.
Another important fact is that gender studies are not scarce at all. This can be proven
by the huge amount of published works on the subject that, in addition to reference books, such
as “Problemas de Gênero”, by Judite Butler (2003), there are a multitude of periodicals,
nationally
1
and international ones, which are exclusively dedicated to the theme and its
consequences: rights, prejudices, violence, feminism, sexuality, etc.
While social movements are being created and expanded, whether in the form of a
“network” or “social mobilization” (GOHN, 2008), of “
outraged
” (GOHN, 2019) or of
1
In CAPES' webqualis database alone, it is possible to find more than 15 journals that have the word genre in
their name; access in sep. 2021.
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“collectives” (GOHN; PENTEADO; MARQUES, 2020), ), the studies are also expanding,
taking over specific academic spaces, generating research centers and study groups and
countless theses and dissertations
2
. The quantity and quality of social movements and their
militants are also increasing exponentially, attracting more and more adherents, followers and
people interested in building a freer, fairer, more tolerant society with equal rights. Even so, the
numbers of violence and death have not reduced; on the contrary. Data on violence against
women (WAISELFISZ, 2015) and against LGBTI people
3
(GGB, 2016) only reveal that
intolerance persists (and in many cases even increases), despite the promotion of social
movements and academic production. Which is even understandable, if we understand that
agitating apparently calm waters brings out what is hidden at the bottom: the shadow side of
the social, sedimented by the dominant ideology.
In this apparent paradox, we have some social practices intervening negatively in
social movements and academic studies, so as not to allow banal violence, based on stereotypes
and cultural taboos, to cease. In this way, one of the obstacles to tolerance may be precisely in
the crystallized behaviors of society that separate men from women in different situations,
which also become common sense in school education, as they were intentionally and/or
silently incorporated throughout the school. of time by members of their own community.
Let's look at the study by Pereira and Mizusaki (2015) as an example. The authors
applied a questionnaire to students of a degree course in Pedagogy, whose results showed that
the majority witnessed the gender issue at school only through jokes between colleagues, in the
form of bullying, but claimed to have had no serious discussion at all. respect before entering
university. Perhaps, for this very reason, most of these students conceptualized gender as a
historical process of male-female binary division. As bullying is a clear manifestation of any
kind of prejudice, it is a pity that most of the time the school ignores it as an excellent
opportunity for reflection and study on the reason for its emergence in the group of students.
And sometimes even the teachers...
In fact, gender is a highly complex word. Joan Scott (1995) had already alerted to the
fact that the term has become, in several publications, synonymous with women. In these
2
We can cite the work of Vianna et al (2011), which aimed to map the national academic production on education,
gender and sexuality between the years 1990 and 2006, recognizing its growth. In addition, it is important to note
that a simple search in the CAPES Theses and Dissertations Bank, carried out in January 2020, found almost eight
hundred works with the descriptor “gender studies” defended in the last 10 years. The number drops to 26 when
searching for “gender studies” AND “teacher training”.
3
There was once a time in history when the acronym was GLS (Gays, Lesbians and Sympathizers). As the
understanding of diversity has evolved, so has the acronym, the most current being LGBTQIA+ (Lesbian, Gay,
Bisexual, Transgender, Queer, Intersex, Asexual and other variations of sexuality and gender).
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publications, the term came to designate the contradictions to which women submit (and are
subject) to the circumstances of the universe of domination and oppression of men. But, says
the author, gender is different from feminism, so they should not be taken as univocal. Although
gender studies emerged from feminist endeavors in claims for equal rights, Scott (1995) notes,
the concept of gender has nothing to do with the human biology of the x and y sex chromosomes
(women give birth and men are physically more strong), but to the roles that are assigned to
men and women. On the other hand, feminism is the specific movement of women to claim and
respect their rights.
These social/sexual roles appear in the text by Alícia Fernandez (1994) under the idea
of “cultural forms”, understood as a process of sociocultural construct
ion based on prescriptions
about ways of speaking and acting as a man or as a woman, conditioned to the biology of each
individual. person
–
hence the emphasis given to the alternative conjunction or, since nothing
hybrid is possible. “Cultural forms”, the
author explains, by polarizing attitudes and ways of
being only into a man’s or a woman’s thing, limit people’s identity and open the way to
discrimination, prejudice, intolerance and violence, both physical as symbolic. Such
prescriptions of “cultural forms” are dangerous, however, socially accepted –
even if silently
–
and reinforced by cultural processes, among others, school education. Thus, it is possible to
qualify the “cultural forms” as creators of stereotypes, even the most rudimentary ones, such
as
the woman being fragile and sensitive, aiming for nothing more than motherhood and the
responsibilities of taking care of children and the home.
The article “Representations of body
-
identity in life stories”, written by Souza (2000),
for example, indicates that there are representations in the figures of teachers that reinforce such
stereotypes. Furthermore, the author explains that, with exceptions, there is nothing in the
school capable of opposing, criticizing or reflecting on the biological determination of the
binary culture, man or woman. Thus, we can return to Foucault (1988) and his observations on
repression, creation and maintenance of stereotypes as historical elements. In addition, more
recent reports, such as those collected by Costa and Vianna (2018), confirm the permanence of
“cultural forms”, particularly those regarding women as responsible for taking care of the house
and children, not being able to study or work, for this implies forsaking her own home, her
husband, and her offspring. Or, we would say, throwing a great load of blame on them, when
by choice or necessity they deviate from these standards.
No matter how “modern” society is –
a purposeful double meaning, indicating avant-
garde and the triple ideation of modernity of equality, fraternity and freedom
–
, the rancidity of
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culturally constructed male superiority still remains. This shows up in the high numbers of
violence (including murders), prejudice and discrimination, as compiled by Reis and Eggert
(2017). And, paradoxically, the more the movements for equal rights are reinforced, apparently
this number seems to increase. The media reports daily events of discrimination, disrespect,
violence against women, gays, transsexuals, etc. The idea that comes to mind is that of these
air balloons that, when squeezed on one side, increase in size on the other.
However, this is often revealed in a taciturn way in everyday life. When you enter a
store to buy a toy, for example, the first question asked by the customer service is usually “for
a boy or a girl?”, as there are two distinct sections in the stores, separated by “gender”. This
also happens with clothes and other accessories, like a simple protective cell phone case: those
with lots of glitter, flowers, hearts, cute animals, delicate characters and pink are adornments
for effeminate girls, women and men.
França (2009, p. 18, our translation
) recorded this clearly: “it is not sexual
characteristics, but their representation and/or appreciation that build female and male
identities. The
se identities are not natural, they are human constructions.” Thus, any form
different from the stereotyped pattern of female-mother-female and male-provider-male is
qualified as a “deviation of conduct”, and can/should be fixed. And how is this perpetuate
d in
society? Through its rites, having, according to the author, the school as an allied institution for
the maintenance of normality: “the school stands out for promoting the fixity of a female
identity focused on students and a male identity focused on
students, both taken as natural. ”
(p. 37, author's emphasis, our translation). For França (2009), the school teaches the meanings
and attitudes of being a boy and being a girl, including moral aspects of this evident segregation
between social roles.
Almost always, it is reiterated, this morality is the one instituted by the so-called
“traditional” family, whose tradition is based on the idea of a family centered on the father
-
provider and on the mother-of-the-home-who-takes care of the children, or that is, the tradition
of machismo, of patriarchy, of oppression. Although affirming this is already commonplace, it
is worth going back to Louro's text (2000, p. 16, our translation), in which the author records
that “despite all the oscillations, contradiction
s and weaknesses that mark this cultural
investment”, recovering the history of struggles for a less segregating and less oppressive social
life, “society intentionally seeks, through multiple strategies and tactics, to 'fix' a 'normal' and
lasting male or
female identity”. Among such strategies, the author draws attention to the fact
that children learn (through family, television, church, internet, etc.) “from a very early age,
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Gender and school education: Maintenance or rupture of the binary world?
Rev. Hipótese,
Bauru, v. 8, e022011, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2446-7154
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jokes and mockery, nicknames and gestures to direct those who do not conform to gender
standards” (p. 19
, our translation).
It is daring to say, however, that there are cultural forms that even predate these scorns
learned in childhood. We recover an anecdote heard (or perhaps read) many years ago, whose
unexpected ending [one of the tricks of humor to achieve laughter] reveals another strategy for
fixing identities. It is said that two newborns were side by side in the maternity ward when one
baby catches the attention of another, claiming to be a boy. The curiosity of the other is
sharpened, questioning the reasons for such an assertion. The first, the self-declared boy, orders
them to look “down” and, in doing so, both do not contemplate their sex (which would be
expected), but discover their “blue blanket”.
We saw, then, Reis and Gomes (2011) declaring that there is a certain subtlety in
gender issues, as if the segregation between men and women, created by cultural forms, was
maintained by “unconscious” and even “innocent” symbolic gestures. He cites as an example
the fact of givi
ng a girl a doll, “perpetuating the idea that the girl should be as beautiful as a
doll and take care of someone like a child” (p. 507). But what is unconscious in this attitude?
The person who presents a girl with a doll would not do the same for a boy, that is, a toy
representing a crying baby needs to be fed, have its diapers changed, etc. After all, why would
anyone do that, if playing with dolls is for girls? And what message would you be trying to
convey to parents, family and friends if you were to present the little junior with a
girl's toy
?
It seems that this thing would be a serious provocation, but unable to promote the
rupture of what is normative for gender issues. Such provocation would remain on the surface
of the thing, because the sense of right or wrong for a boy to play with dolls remains at the
unconscious level of people and society and is not brought to the surface, except in elaborate
speeches, but that do not reach this depth. It does not really "touch" the affective level, where
values, prejudices, myths, fears, etc. are rooted. Thus, it would make no sense, within this social
atmosphere of division between the attitudes expected for boys and girls, even in the cradle, to
promote this "inversion". After all, to give a boy a doll is to invert the expectations for the
newborn male, predicting that the boy will be marginalized, because he will become effeminate
when he grows up, therefore, unable to become a male provider. So, it really doesn't make any
sense at all this kind of attitude, just like gifting a newborn girl with a soccer ball or some blue-
colored clothes.
All these questions about being a boy or a girl BEFORE BEING HUMAN were, in a
way, very well captured by Berenice Bento (2011), when describing the whole ritual that
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Ivan FORTUNATO
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involves the expectation of the birth of a new person, especially the restlessness of if you
discover your sex, so that the family is already organized long before the birth, because
gestating, giving birth and raising a child involves different attitudes and values according to
the penis or vagina. Here are the author's words:
Watch a pregnant woman. As the months go by, the anxiety to know the sex
of the child increases. When the sex of the child is revealed, what was an
abstraction becomes concrete. The fetus is no longer a fetus, it is a boy or a
girl. This revelation evokes a set of expectations and assumptions around a
body that is still a promise [...] The materiality of the body only acquires
intelligible life when the sex of the fetus is announced. All the symbolic
effectiveness of the words uttered by the doctor is in their magical power to
generate expectations that will later be materialized in toys, colors, clothing
models and projects for the future child even before the body come to the
world. When the child is born, he/she will find a complex network of desires
and expectations for his/her future, taking into account to project him/her the
fact of being a boy/girl, that is, being a body that has a penis/ vagina. These
expectations are structured in a complex network of assumptions about
behaviors, tastes and subjectivities that end up anticipating the effect that was
supposed to cause. The toys, clothes colors and other accessories that will
make up the trousseau are chosen taking into account what would be most
appropriate and natural for a vagina and a penis. However, how is it possible
to say that all children born with a vagina like pink, dolls, toys that do not
require much strength, energy and intelligence? What we evoke as a natural
datum, the sexed-body, is the result of gender norms. How can we say that
there is a natural, original referent for experiencing gender, if at birth we
already find the structures functioning and determining right and wrong,
normal and pathological? The original is born “contaminated” by culture.
Before birth, the body is already inscribed in a discursive field (BENTO, 2011,
p. 550).
This long quote was necessary, as its content reveals that the man-woman binary world
is part of a common sense fought by academic literature and social movements. Both
developing at the rational level and, once again, with few exceptions, unable to reach the
deepest level of the unconscious of people, groups and society. However, despite all the
complaints to the contrary, everything that was presented by the author is still current. If in
doubt, just type “revelation tea” in the search channel and browse
the nearly ten million pages
retrieved in the search.
Thus, this finding only reinforces how much male-female binarism (usually written in
this sequence) is present in the world, being taboo to treat things differently - or would anyone
dare to give a dress as a gift to a newborn boy? Again, that would make no sense. After all, it
is an affront for an affront, as if it wanted to provoke such a social rupture by an individual,
localized action, without educational or social movement promotion sense. Here's the taboo:
dress is a thing of gender, and gender is given by biology. It doesn't break that way. However,
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Gender and school education: Maintenance or rupture of the binary world?
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no one is horrified when the father dresses his little girl in his soccer team jersey.
Hence the following question: how, then, to overcome this taboo? And it is not at stake
whether this taboo needs to be overcome, as it is past time for us to have the recognition of
equal rights between people. Bento (2011, p. 555, our translation) recognizes the fundamental
role of the school in this endeavor, howeve
r: “it presents itself as an institution incapable of
dealing with difference and plurality, [because] it functions as one of the main guardian
institutions of gender norms and producer of heterosexuality”. Unfortunately and regrettably,
this quote refers to an accurate description of the school as a (re)producer of the male-female
binary society. Although the author protects the school, taking it not as an isolated institution,
but as part of a complex social mechanism, it is not possible to accept that the place of education
is a place of discrimination, prejudice, exclusion, mockery, violence, the maintenance of a status
quo that impose ways of being on people.
Reis and Gomes (2011), in a way, agree with the idea that the school has served as the
guardian of the gender division installed in society, acting in an openly segregating way with
distinct gender activities, such as ballet classes for girls only. , football only for boys, etc., or in
a muted way, maintaining the idea that boys are messier and more focused on science,
technology and math, and girls are quieter and more devoted to the studies of letters and
languages humanities.
For this very reason, the school still needs to find ways to overcome itself as the
producer of these inequalities and differences, as this distinction between female and male
children leads to a kind of generalized discouragement, keeping girls away from future
professions focused on engineering, science and technology, or so-called masculine activities,
and boys in ballet or other activities linked to the sensitive side of the personality.
Thus, school education contributes, silently - or loudly - to the maintenance of a sexist
patriarchal society. Although the numbers inventoried by Reis and Gomes (2011) show that
girls have surpassed boys both in terms of enrollment and with higher scores on school tests,
the job market is still basically sexist, with better paid, more prestigious, greater responsibilities
and powers destined, for the most part, for men. In the same direction, Fúlvia Rosemberg (2001)
already mentioned the need for school education to be thought beyond itself, because a more
egalitarian educational process is useless, if outside the school walls everything remains as it is
- obviously not even the egalitarian educational process has been achieved, but it is important
not to lose sight of the social context.
In fact, a few years earlier, Rosemberg (1994) had already warned about this type of
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work in school education: naturalized occupational segregation (cultural, in fact) tends to
promote schooling that is also divided, creating courses, subjects, attitudes and values attributed
to them. artificially and forcefully for boys or girls. In fact, the author even postulates the
hypothesis that the devaluation of the work of teachers, in terms of respect, salary and career,
has accompanied the feminization of teaching. According to Rosemberg (1994), the more
women in a given occupation, the greater the chances of precariousness and adverse working
conditions. Here's another big
–
yet silent
–
problem of gender discrimination in our society
that the school needs to recognize in order to fight against it.
This is part of the relationship created between gender and capitalism, acting in
“symbiosis”, in the words of Cecilia
Sardenberg (2015). The author realized that society's forms
of oppression work together, strengthening each other, supporting the “intersected stratification
and oppression systems” (p. 56). It is not by chance, therefore, that the labor market works with
this way of reinforcing patriarchy and vice versa: both work together to maintain the status quo.
It was as well noted by Miguel (2015, p. 1234, our translation
): “Male domination and class
domination are two central axes of the social structure. Any dense description of the social
world, not to mention the quest for its transformation, needs to advance the understanding of
their interrelation.
So far, then, we have already dealt with segregating and discriminatory social facts in
society that directly or indirectly interfere with school education in terms of gender, as well as
dealing with the internal difficulties of the school in dealing with people, because before that,
a division of attitudes is sought. , values and preparation for the future considering whether they
are boys/men or girls/women. However, there are still, as well outlined by Carvalho (2004),
problems to be faced in one of the most important society-school connections: the family. In
this regard, the author notes the following: “The prese
nce of a father is always surprising, as all
the teachers, from public and private schools, report the predominant, if not exclusive, presence
of mothers at parent-
teacher meetings” (p. 46, author's emphasis
, our translation).
In this article, Carvalho (2004) presents several complaints about the relationship
between the family and the school, starting with the idea of parents. It is common for the
governing body and teaching staff of a school unit to complain about the absence of parents in
the children's school life. Often, however, those who participate or fail to participate are the
mothers. The author of the article presents some examples, taken from a soap opera from the
largest Brazilian network and from booklets distributed in schools, in which mothers are
expected to closely monitor what their sons and daughters do at school in terms of performance,
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learning, tasks, behaviors, etc. The presence of a father at school is considered surprising. So
surprising that the novel creates a scene in which the only parent present at a school meeting is
a widower.
As a result, we fall into yet another unclear gender trap: childcare is a maternal
responsibility, as the father does not have enough time, skills or affection for such diligence.
This is a family model that is both fictitious and out of use, either because of the fact that women
are increasingly participating in the family income, or because of their participation in the labor
market, etc. And for the more effective participation of men in “household affairs”. Carvalho
(2004, p. 55, our translation) reinforces the presence of this stereotyped family model, still
reinforced by the media, noting that there is an expectation that “the obligation to follow up on
homework, to encourage studies and to give affection to the child is only the mother, even if
she works all day, like the father”. However, the school, which reinforces this separation of
responsibilities between women (mothers) and men (fathers), goes further, maintaining the
invisibility of women when they complain about the absence of fathers, maintaining an
association of fathers and teachers or even calling a meeting of parents, but expecting only the
presence of mothers.
In a very recent article, Almeida and Ribeiro (2021) bring yet another account that
meets this separation between the roles of mother and father in relation to school education, but
in a more grotesque way. The authors tell about a particular situation of a male teacher who had
broken up a fight between children, when a child had thrown toys at another child. The mother
of the most violent child went to look for the teacher at school, without resolving anything.
Later, the child's father was waiting for the teacher outside the school gate to resolve the “man
-
to-
man” situation, stati
ng that it was the mother's responsibility to solve the school's problems.
The teacher who refuses to fight is called a fag by older students who witnessed the scene.
“Everyday life is drenched in traps to make people think it's impossible to row against the tides”,
affirm Almeida and Ribeiro (2021, p. 321, our translation).
In this reported situation, we saw that not only is the role delegated to the mother to
get involved with the child's school situations, but the father needs to resolve things as a man,
being aggressive and macho. Those who run away from the fight are not seen as someone who
wants to deal emotionally and rationally with the things of school education, but pejoratively
called by words that historically refer to men-not-so-men. Worse, and more regrettable, is that
such a report is not an isolated case, but something that is perpetuated in society.
In essence, from cultural forms to the expectation of only the mother's participation in
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school, when it comes to the relationship between gender and education, there is no way to
disagree with Vianna (2015, p. 793, our translation) who, after two decades of militancy and
research, carrying out diverse and in-depth surveys on the subject, in addition to political
analyzes focused on the curriculum,
he stated that “the impression remains that much remains
to be done”. And indeed it lacks; the article by Souza e Souza (2021), published a few months
ago, continues to bring repeated statements. This is because for decades the situation has not
left the
discourse and become a concrete reality; the authors state that it is necessary to “exceed
the limits of biological knowledge and problematize the social, political and economic aspects
that permeate the production of knowledge at school” (p. 432
, our translation).
In other words, the question, as a rule, boils down to staying within the scope of
establishing what should be done, although how to do it is rarely addressed. The school as a
whole and its teachers still do not have strategies to understand gender issues in depth, to then
face and try to solve the problems of prejudice, discrimination, crystallization of taboos and
dominant ideas, and so on. Perhaps because discourses develop at the rational, perhaps
rationalized, level of expressions of the dominant culture, often dominated by a high degree of
stereotyping.
Both in the training of teachers and in the meetings of teachers and teachers in the
school environment, immersion in the level that really moves our actions is precarious and even
non-existen
t, the latent, the “shadow side”, where values, beliefs, the prejudices, the myths,
which can only be brought to light when the different spaces of formation and action understand
the need for a deep reflection on the role of the school and the teacher in the development of
their students. A reflection that is only possible through the formation and study of fields of
knowledge linked to the fundamentals of the act of educating. In particular, philosophy,
psychology, anthropology and sociology, which allow the understanding of people's and
society's ways of thinking, feeling and acting.
This training is perfectly possible, if seen in undergraduate courses as fundamental, as
far as practices are concerned. The same in relation to continuing education. Because teacher
preparation without the necessary humanistic training does not allow for a level of reflection
and awareness sufficient to prevent the perpetuation of the same crystallized practices. And the
school needs to be different: more human, more solidary, more inclusive and more diversified,
because we believe that, from there, society can become another. It is this hope that moves us.
REFERENCES
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análise: discussões sobre a aplicabilidade do conceito de escalas nas pesquisas sobre formação de professores
Gender and school education: Maintenance or rupture of the binary world?
Rev. Hipótese,
Bauru, v. 8, e022011, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2446-7154
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About the author
Ivan FORTUNATO
Coordenadoria de Formação Pedagógica - IFSP.
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