A racionalidade neoliberal na produção de discursos sobre a educação financeira em coleções didáticas do Novo Ensino Médio
Rev. Hipótese, Bauru, v. 9, n. 00, e023003, 2023. e-ISSN: 2446-7154
DOI: https://doi.org/10.58980/eiaerh.v9i00.425 6
posição de sujeito, que não deve ser confundida como a pessoa do discurso, o autor da
formulação ou ainda o ser empírico, mas, sim, como uma posição a ser assumida no enunciado,
posição essa que poderia ser ocupada por diferentes sujeitos. A terceira circunscreve o domínio
associado, espécie de rede por meio da qual um enunciado se relaciona com outros, já
formulados ou ainda a serem produzidos. A quarta e última propriedade constitui a
materialidade repetível, ou seja, uma instância, uma data, um local, um campo de estabilização
que permite a identificação do enunciado. Segundo Foucault (2010, p. 118), “[…] o enunciado,
ao mesmo tempo que surge em sua materialidade, aparece com um status, entra em redes, se
coloca em campos de utilização”.
Nos estudos foucaultianos, é importante salientar que o discurso está fortemente ligado
ao poder. Conforme Foucault (2006), o discurso abriga uma série de elementos que atuam no
interior dos mecanismos gerais de poder. Convém, nesse ângulo, ponderar a perspectiva de
poder derivada das teorizações desse pensador francês. Assim, o poder é conceituado de modo
diferente de outras abordagens, como o marxismo e as teorias contratualistas. Dessa forma, o
poder não se encontra apenas na esfera económica, como o Estado, ou em uma classe social
especifica (a burguesia, por exemplo), mas também não se limita à economia, embora Foucault
(2006) negue a existencia desse tipo de poder. Além disso, não se trata de um poder que se
limita à negação, à proibição, mas, sim, de relações de poder que transparentam todo o corpo
social. Ou seja, onde existem relações sociais, há relações de poder. O poder não pode ser detido
ou tomado, porque ele não se encontra num ponto fixo e identificável, senão totalmente disperso
e possibilitando a emergência de estratégias de resistência, de um campo de respostas possíveis,
de práticas de liberdade.
O poder atua frontalmente nos processos de objetivação e subjetivação. Esses são
entendidos como estratégias que objetivam os sujeitos através de relações de poder e de saber,
bem como a partir de modos nos quais eles são levados a prestar atenção sobre si mesmos,
ligando-se a uma determinada identidade, tendo em vista o funcionamento de regimes de
verdade a atuarem sobre a produção de subjetividade. De acordo com Foucault (2016, p. 12),
“[…] Em nossa cultura, em nossa civilização, numa sociedade como a nossa, há certos discursos
que, institucionalmente, ou por consenso, são reconhecidos como verdadeiros a partir do
sujeito”. Nesse prisma, o sujeito é constantemente instado a engendrar a sua existência com
base na constituição de um discurso verdadeiro sobre si mesmo, principalmente a partir de
técnicas, como a confissão, antes restrita aos domínios da religião cristã, mas, atualmente,
corporificadas em relatos diversos e em campos discursivos também multiformes.