Milagros Elena RODRÍGUEZ.
Rev. Hipótese, Bauru, v. 9, n. 00, e023009, 2023. e-ISSN: 2446-7154
DOI: https://doi.org/10.58980/eiaerh.v9i00.434 3
Esse além (trans) indica o ponto de partida da exterioridade da modernidade,
daquilo que a modernidade excluiu, negou, ignorou como insignificante, sem
sentido, bárbaro, não cultural, alteridade opaca porque desconhecida, avaliada
como selvagem, incivilizada, subdesenvolvida, inferior, mero despotismo
oriental, modo de produção asiático etc. Vários nomes dados ao não-humano,
ao irrecuperável, àquela sem história, àquela que se extinguirá diante do
avanço avassalador da "civilização" ocidental globalizante (DUSSEL, 2004,
p. 222, tradução nossa).
É preciso retomar a necessidade de rever a pesquisa filosófica por meio de
outras perspectivas, capazes de superar o status moderno, bem como assumir
a tarefa de formar novos quadros epistemológicos, promovendo a valorização
do conhecimento alternativo (ALVARADO, 2017, p. 49, tradução nossa).
A sabedoria da própria Terra, do nosso habitat, da nossa morada, que nos é
revelada quando estamos abertos a compreendê-la, a nos render ao feitiço do
que ela nos está revelando. É a sabedoria da Terra, não a experiência humana
(PANIKKAR, 2008, p. 1, tradução nossa).
A transfilosofia sentipensante preenche suas bases complexas com diatopia,
pois a ajuda a lutar contra a separabilidade imposta como superioridade no
conhecimento científico e no conhecimento ancestral não legalizado; não
apenas em seu sentido político, mas nas lutas por justiça epistêmica
(RODRÍGUEZ, 2022a, p. 99, tradução nossa).
Rizoma inicial. Necessidades Urgentes no Ensino da Filosofia Investigativa-Provocativa
As epígrafes da investigação apresentam exemplarmente a intencionalidade do
pesquisador e o vislumbre das lutas pela libertação da filosofia no ensino. No que segue, o
prefixo trans, que significa além, é denotado pelo grande filósofo transmoderno, o mestre
Enrique Dussel, portanto, transfilosofia, além da filosofia colonizada, fazendo um paralelo com
a epígrafe deste pesquisador, significa circunscrever o que a modernidade excluiu da filosofia,
negada, ignorada como insignificante, sem sentido, ignorada da vida cotidiana, dos diminuídos,
da filosofia latino-americana; mas também da filosofia antiga; interpenetrar a filosofia
descolonizada com o “pensamento sentimental” (sentipensar). Uma categoria maravilhosa que
será definida mais adiante.
Nas deficiências da filosofia tradicionalista e colonizada, é urgente, como diz o cristão
Raimon Panikkar na epígrafe com sua ecosofia, que é urgente filosofar com a sabedoria da
própria Terra. Nisso, com o saber ancestral, há uma dívida colonial que deve ser evidenciada
mais uma vez e salvaguardada. Por que não numa transfilosofia libertadora? Por isso, José
Alvarado explica muito bem em sua obra: A pesquisa filosófica numa perspectiva decolonial,
da qual sua epígrafe dá conta, é preciso retomar à necessidade de rever “a pesquisa filosófica
por meio de outras perspectivas, capazes de superar o status moderno, bem como assumir a
tarefa de formar novos quadros epistemológicos que promovam o valor do conhecimento
alternativo” (ALVARADO, 2017, p. 49, tradução nossa).