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análise: discussões sobre a aplicabilidade do conceito de escalas nas pesquisas sobre formação de professores
Uso de vídeos em atividades de divulgação científica sobre buracos negros e ondas gravitacionais
Rev. Hipótese,
Bauru, v. 8, e022003, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2446-7154
DOI: https://doi.org/10.47519/eiaerh.v8.2022.ID7
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USO DE VÍDEOS EM ATIVIDADES DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
SOBRE BURACOS NEGROS E ONDAS GRAVITACIONAIS
USO DE VIDEOS EN ACTIVIDADES DE DIFUSIÓN CIENTÍFICA
SOBRE AGUJEROS NEGROS Y ONDAS GRAVITACIONALES
USE OF VIDEOS IN SCIENCE DISSEMINATION ACTIVITIES ABOUT
BLACK HOLES AND GRAVITATIONAL WAVES
João Pereira NETO
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo
e-mail: jpn.mnb@gmail.com
Ricardo Roberto Plaza TEIXEIRA
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo
e-mail: rteixeira@ifsp.edu.br
Como referenciar este artigo
PEREIRA NETO, J.; TE
IXEIRA, R. R. P. O uso de vídeos em atividades de divulgações
científica sobre buracos negros e ondas gravitacionais.
Revista Hipótese
, Bauru, v. 8, e022003,
2022. e-ISSN: 2446-7154. DOI: https://doi.org/10.47519/eiaerh.v8.2022.ID7
Submetido em
: 23/01/2021
Revisões requeridas em
: 10/05/2021
Aprovado em
: 05/06/2021
Publicado em
: 01/01/2022
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análise: discussões sobre a aplicabilidade do conceito de escalas nas pesquisas sobre formação de professores
João Pereira NETO e Ricardo Roberto Plaza TEIXEIRA
Rev. Hipótese,
Bauru, v. 8, e022003, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2446-7154
DOI: https://doi.org/10.47519/eiaerh.v8.2022.ID7
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RESUMO
: Esta pesquisa analisou a utilização didática de apresentações audiovisuais de
divulgação científica para o ensino de temas de astronomia, tais como buracos negros e ondas
gravitacionais, nas quais foram usados vídeos de curta duração e cenas de filmes e de
documentários. A investigação realizada caracterizou-se como exploratória e qualitativa,
mediante um processo interrogativo e reflexivo, buscando compreender os fatos observados
com o intuito de apontar para novas possibilidades para a educação científica. As ações de
divulgação científica realizadas indicaram um grande interesse dos alunos por temas de
astronomia e astrofísica.
PALAVRAS-CHAVE
: Divulgação da ciência. Astronomia. Recurso audiovisual. História da
ciência.
RESUMEN
: Esta investigación analizó el uso didáctico de presentaciones audiovisuales de
divulgación científica para la enseñanza de temas de astronomía, como agujeros negros y
ondas gravitacionales, en las que se utilizaron videos cortos y escenas de películas y
documentales. La investigación realizada se caracterizó por ser exploratoria y cualitativa, a
través de un proceso interrogativo y reflexivo, buscando comprender los hechos observados
con el fin de señalar nuevas posibilidades para la educación científica. Las acciones de
divulgación científica realizadas indicaron un gran interés de los estudiantes por temas de
astronomia y astrofísica.
PALABRAS CLAVE
: Difusión de la ciencia. Astronomía. Recurso audiovisual. Historia de la
ciencia.
ABSTRACT
: This research analyzed the didactic use of audiovisual presentations of scientific
dissemination for the teaching of astronomy themes, such as black holes and gravitational
waves, in which short videos and scenes from films and documentaries were used. The
investigation carried out was characterized as exploratory and qualitative, through an
interrogative and reflective process, seeking to understand the facts observed to point to new
possibilities for scientific education. The scientific dissemination actions carried out indicated
a great interest by students in astronomy and astrophysics themes.
KEYWORDS
: Dissemination of science. Astronomy. Audiovisual resource. History of science.
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análise: discussões sobre a aplicabilidade do conceito de escalas nas pesquisas sobre formação de professores
Uso de vídeos em atividades de divulgação científica sobre buracos negros e ondas gravitacionais
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Introdução
Desde a Antiguidade, a humanidade vem observando e estudando as estrelas e outros
objetos existentes no céu; de início, a partir da fenomenologia daquilo que era observado, na
maior parte das vezes. O estudo da astronomia possibilita que o ser humano entenda melhor a
sua posição espacial e compreenda alguns dos fenômenos observáveis na natureza: para
entendermos os fenômenos presentes em nosso planeta, em alguns casos, é vital “olhar” para
além da atmosfera terrestre, como o homem tem feito desde tempos imemoriais. A compreensão
acerca do céu e do universo foi uma preocupação que permeou diversas culturas, desde as mais
simples até aquelas mais sofisticadas em termos tecnológicos (FERREIRA; MEGLHIORATTI,
2008).
No Egito e na Mesopotâmia, aproximadamente no terceiro milênio antes de Cristo,
tendo como ponto de partida os imperativos e as necessidades da vida cotidiana, associados ao
desenvolvimento da produção agrícola, às estações do ano (conhecimento sobre em que época
semear) e à troca de produtos (necessidade de contagem e de quantificação), surgiram a
astronomia e a matemática, as duas primeiras ciências (ROSMORDUC, 1983).
No século XVII, Isaac Newton (1643-1727) estruturou matematicamente a ideia da
existência de uma força de ação à distância para explicar a atração gravitacional entre quaisquer
dois objetos com massa, ou seja, também entre os corpos celestes. Newton começou a observar
as modificações de marés e, como muitos pescadores atentos já haviam notado, percebeu existir
uma coincidência entre as fases da Lua e as marés altas e baixas. Assim, depois de anos de
estudos e observações, ele chegou à famosa expressão que explica o comportamento da força
gravitacional, concluindo que todos os astros estavam sujeitos a essa força e que massa atrai
massa. A gravidade da Terra se enfraquece de maneira inversamente proporcional ao quadrado
da distância: assim, ela é dividida por quatro quando duplicamos a distância. A lei da gravitação
é muito importante em escalas cosmológicas, para explicar o funcionamento do Universo
(FEYNMAN, 2012).
Newton unificou duas áreas que, até então, eram encaradas separadamente (VERDET,
1991): o estudo da queda dos corpos, cujas leis foram antes dadas por Galileu Galilei (1564-
1642), e o estudo da revolução da Lua ao redor da Terra, que seguia as regras empíricas
desenvolvidas anteriormente por Johannes Kepler (1571-1630).
Mais a frente historicamente, no século XIX, se consolidou, por meio do trabalho de
Michael Faraday, a ideia mais abstrata da existência de campos que permitem – fazendo uma
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mediação – a atuação à distância de uma força (REIS, 2006).
A física moderna teve seu prólogo no estudo dos céus: as suas origens estão situadas no
estudo dos problemas astronômicos e esse vínculo foi mantido ao longo de toda a história da
ciência. Ao longo desse processo, ocorreram importantes transformações na visão de mundo
predominante, em particular o abandono da concepção do cosmo como sendo uma unidade
fechada e hierarquicamente ordenada, na qual o céu e a Terra estavam sujeitos a diferentes leis,
que foi substituída pela concepção de um universo aberto, indefinidamente extenso e unido
pelas mesmas leis fundamentais que governam todas as suas partes constituintes, o que implicou
na fusão newtoniana da física celeste com a física terrestre (KOYRÉ, 1943).
Buracos negros e ondas gravitacionais
Em 1783, no âmbito da mecânica newtoniana, o cientista inglês John Michell (1724-
1793) propôs o conceito de "estrela escura", uma estrela com densidade suficientemente alta
para que nem mesmo a luz pudesse escapar de sua atração gravitacional (GRAHAM, 2017).
Posteriormente, a relatividade geral, a partir do trabalho do físico Albert Einstein (1879-1955),
se desenvolveu durante a segunda década do século XX, utilizando uma sofisticada abordagem
matemática para estudar os efeitos da ação gravitacional: as equações tensoriais. A não-
linearidade dos problemas e a quantidade de equações que representam um único fenômeno
podem ser, hoje, superadas graças ao desenvolvimento computacional que facilitou a
compreensão de diversos fenômenos (HORVATH, 2007). Alguns físicos e matemáticos se
dedicaram a propor soluções para os problemas oriundos da relatividade geral, como as métricas
de Karl Schwarzschild (1873-1916), que descrevem um campo gravitacional externo a certos
corpos com simetria esférica, sem rotação. Com as novas tecnologias aplicadas ao campo da
cosmologia e da astronomia, sobretudo no campo da observação, as previsões teóricas foram
adquirindo corpo e se confirmando.
Um dos modelos de universo decorrentes da Teoria da relatividade era aquele em que a
tessitura de espaço-tempo poderia ser distorcida por eventos violentos associados ao choque de
corpos com abundância de matéria: o espaço-tempo, enquanto estrutura, sentiria os efeitos
desses choques na forma de ondas. As ondas gravitacionais são ondas do tipo transversal que
se deslocam na velocidade da luz. Elas são geradas por eventos cósmicos de proporções
inimagináveis que envolvem astros com massas gigantescas, como, por exemplo, a fusão de
buracos negros ou sistemas binários de estrelas de nêutrons. Embora a radiação gravitacional
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Uso de vídeos em atividades de divulgação científica sobre buracos negros e ondas gravitacionais
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apresenta muitas dificuldades experimentais para ser detectada, sua principal vantagem é que
ela pode diagnosticar o universo de modo integral, pois toda a matéria contida no universo
interage com as ondas gravitacionais (ASSIS, 2016).
Em 14 de setembro de 2015, cientistas do LIGO, “
Laser Interferometer Gravitational-
Wave Observatory
” ou “Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser”
1
,
puderam observar as ondas gravitacionais resultantes do choque entre dois buracos negros
supermassivos, que estavam situados a cerca de 1,2 bilhão de anos-luz de distância da Terra. A
interferometria a laser é um método experimental para determinar distâncias com muita
precisão, utilizando o fenômeno conhecido da interferência de ondas de qualquer tipo (de som,
de luz ou gravitacional), por uma estrutura em forma da letra L, com dois braços formando um
ângulo reto. Foi a primeira vez em que ondas gravitacionais formadas pela coalescência de dois
buracos negros foram detectadas diretamente. O decaimento orbital de sistemas binários de
buracos negros provoca a perda de energia do sistema que se propaga na forma de ondas
gravitacionais. O evento GW150914 foi revelado pela estrutura do laboratório LIGO em
Hanford e Livingston nos Estados Unidos (ABBOTT
et al
., 2016). Estas ondas gravitacionais
foram formadas pela coalescência de dois buracos negros, cujas massas (valendo 36 e 29 massas
solares) somadas eram de cerca 65 massas solares; neste caso cerca de 3 massas solares foram
irradiadas na forma de ondas gravitacionais (MOFFAT, 2016). Uma segunda observação de
ondas gravitacionais, feita também pelo LIGO, ocorreu em 26 de dezembro de 2015; este
evento, denominado de GW151226, também ocorreu devido à coalescência de um sistema
binário formado por dois buracos negros (BASSALO; CATTANI, 2016). A detecção destes
minúsculos tremores no espaço-tempo que resultam de buracos negros colidindo, o LIGO abriu
uma nova “janela” de observação do universo, em certo sentido, semelhante ao que Galileu fez
em 1609 quando apontou pela primeira vez um telescópio para o céu (WOLCHOVER, 2016).
Em janeiro de 2017, uma nova detecção de ondas gravitacionais foi feita pelo LIGO, o
evento GW170104 (ABBOTT
et al
., 2017). Nesta detecção a massa somada dos dois buracos
negros que se coalesceram era de cerca de 50 massas solares, com o evento tendo ocorrido a
cerca de 3 bilhões de anos-luz de distância da Terra. Um problema existente foi a determinação
da região específica do espaço de onde provêm estas ondas gravitacionais: isto só pode ser
resolvido por meio de triangulação, o que ocorrerá no futuro próximo com o uso do observatório
VIRGO (na Itália), que será um terceiro ponto de observação junto com as duas instalações do
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Disponível em: https://www.ligo.org. Acesso em: 10 fev. 2021.
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LIGO, existentes nos EUA, em Hanford e Livingston. Há interessantes desdobramentos
matemáticos a respeito desta questão que podem ser trabalhados em atividades de educação
científica: por exemplo, as analogias com a determinação da posição de uma pessoa por meio
do GPS (que necessita de três referências) e com a determinação do epicentro de um terremoto
ou de um tsunami, que é uma onda marítima gigantesca que guarda certas similaridades com as
ondas gravitacionais, em uma abordagem didática. A detecção de ondas gravitacionais teve o
papel adicional de confirmar a existência dos próprios buracos negros, uma classe de objetos
que se originam de estrelas supermassivas.
Em 13 de janeiro de 1916, foi publicado nos Anais da Academia Real de Ciências da
Prússia um artigo elaborado pelo físico e astrônomo alemão Karl Schwarzschild (1873-1916),
contendo um resultado obtido sobre o campo gravitacional de acordo com a relatividade geral.
Este primeiro trabalho de 1916 de Schwarzschild está disponível na internet na sua tradução
para o inglês, com o título “
On the gravitational field of a mass point according to Einstein's
theory
” ou, em português, “Sobre o campo gravitacional de um ponto com uma massa
puntiforme de acordo com a Teoria de Einstein” (SCHWARZSCHILD, 1916a). O resultado
desta pesquisa descreveu um tipo simples de uma nova classe de objetos, denominados buracos
negros. Schwarzschild em 1913 o foi eleito membro da Academia de Ciências de Berlim, em
1914 ingressou no exército Germânico e lutou pelo seu país na Primeira Guerra Mundial, contra
soldados Soviéticos, direcionando seus esforços para a realização de cálculos balísticos e
meteorológicos.
De acordo com a Teoria da Relatividade Geral, a interação gravitacional não é mediada
por potenciais, mas sim pelas propriedades geométricas de espaço-tempo, conceito esse que foi
introduzido em 1908 pelo matemático Hermann Minkowski (1864-1909). A interpretação dos
efeitos da curvatura de espaço-tempo só se consolidou quando foi publicado um segundo artigo
de Schwarzschild, enviado em 24 de fevereiro de 2016, que levou em consideração uma
distribuição esférica e homogênea de matéria. Este segundo trabalho de 1916 de Schwarzschild
está disponível na internet na sua versão original em alemão com o título “
Über das
gravitationsfeld einer kugel aus inkompressibler flüssigkeit nach der Einsteinschen theorie
” ou,
em português, “Sobre o campo gravitacional de uma esfera feita com um líquido incompressível
de acordo com a Teoria de Einstein” (SCHWARZSCHILD, 1916b). É neste segundo artigo que
aparece pela primeira vez a quantidade r
s
, o chamado raio de Schwarzschild. A partir da
igualdade entre a velocidade da luz e a velocidade que um objeto precisa ter para conseguir
escapar da força de atração gravitacional de um corpo de massa M, é possível obter que
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r
s
=2GM/c
2
, sendo c a velocidade da luz no vácuo, M a massa do objeto e G a constante de
gravitação universal (SANTI, 2018). Essa fórmula matemática está associada a um determinado
raio de curvatura da geometria de espaço tempo, causada por um corpo massivo, em que a
velocidade de escape é a mesma da luz. Ou seja, essa fórmula descreve um “local” perto de um
corpo com uma grande massa a partir do qual, todo objeto que cai nele (e está dentro deste raio),
permanece eternamente preso dentro deste corpo e mesmo que consiga adquirir a velocidade
da luz (a maior velocidade permitida pela Teoria da Relatividade), não consegue sair dele, pois
a velocidade de escape é maior que a velocidade da luz! Esse é o chamado Horizonte de
Eventos, uma espécie de superfície que circula um buraco negro: a ciência que explica por meio
de suas leis gerais o que acontece no universo, a partir dessa superfície, em direção à
singularidade, que é o centro do buraco negro, perde validade quanto aos seus princípios e às
suas leis.
O interesse sobre buracos negros renasceu na década de 1950 a partir do trabalho de
David Finkelstein (1929-2016), que interpretou a superfície esférica com o raio de
Schwarzschild como uma forma de membrana unilateral (FINKELSTEIN, 1958) entre duas
regiões, estando a região externa totalmente desconectada da região interna, sem possibilidade
de comunicação do interior do buraco negro com o seu exterior (SAA, 2017): influências
causais podem atravessar esta membrana, mas apenas em uma direção. Este trabalho foi
fundamental para que se passasse a aceitar a existência física do conceito de horizonte de
eventos e, por decorrência, dos buracos negros, encorajando o surgimento da área de pesquisa
vibrante na atualidade que é a astrofísica de buracos negros.
Os dois artigos de Schwarzschild sobre a Teoria da Relatividade publicados no início
de 1916, foram escritos em meados de 1915, quando o autor estava servindo no exército alemão
durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Pouco depois da publicação destes dois
artigos, em 11 de maio de 1916, Karl Schwarzschild viria a falecer de uma doença de pele
autoimune e dolorosa, o pênfigo.
Finalmente, é importante lembrar do trabalho de Stephen Hawking que em 1973,
descobriu que, graças a uma combinação de efeitos quânticos e gravitacionais, os buracos
negros não eram completamente negros e deixavam escapar uma radiação (a “radiação de
Hawking”), devido ao fato de que na borda do horizonte de eventos, os efeitos quânticos
permitiam que pares de partículas e antipartículas surgissem do nada, e devido aos efeitos
gravitacionais, um dos parceiros de cada uma destas duplas desaparecia dentro do buraco negro,
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enquanto o outro escapava em direção ao espaço exterior (PANEK, 2014).
Ensino de astronomia
Muitos trabalhos de pesquisa têm destacado que é importante ensinar física de maneira
multidisciplinar, articulando em diferentes níveis conceitos dessa ciência com outros elementos
da cultura humana (PORTO; PORTO, 2008; OLIVEIRA, 2020). A astronomia é uma ciência
que por natureza, se apresenta com diversas relações interdisciplinares com outras áreas do
conhecimento, bastando lembrar para isso de termos como astrofísica, astroquímica,
astrobiologia, astro-informática e astro-estatística. Conceitos da astronomia fazem parte do
programa de ciências ou de geografia no ensino fundamental, além de serem abordados também
nas disciplinas de física e química no ensino médio (BRETONES, 2006; LEITE, 2006;
SOLBES; PALOMAR, 2013; VOELZKE; MACÊDO, 2020).
Há uma série de trabalhos que apontam diversas potencialidades que o ensino de
astronomia oferece para o processo educacional e que, muitas vezes, são desperdiçadas. Vários
trabalhos também indicam que a astronomia tem uma imensa capacidade para cativar os jovens
para a ciência. Portanto, temas de astronomia, astrofísica e cosmologia podem se constituir, se
bem trabalhados, em fortes recursos interdisciplinares, tendo em perspectiva o fato que
englobam conhecimentos de diversas áreas do saber.
A amplitude e diversidade de conhecimentos produzidos pelos seres humanos criou
aquilo que se denomina de cultura humana (TYLOR, 2014), que inclui as artes, as leis, os
costumes, os hábitos, as habilidades, as crenças e, também, as ciências. O conceito de cultura
humana está intrinsecamente relacionado ao conceito de civilização: a evolução cultural se
materializou no processo civilizatório e gerou a diversidade cultural existente na humanidade,
em certo sentido, um contraposto à unidade biológica da espécie humana (LARAIA, 2009).
Todavia, geralmente, quando se fala em cultura, raramente a física – e muito menos a
astronomia – é lembrada (ZANETIC, 2005). Entretanto, os conceitos físicos são criações da
mente humana – como um livro ou uma sinfonia – não sendo unicamente determinados pelo
mundo exterior (EINSTEIN; INFELD, 2008). O mundo acadêmico e universitário se vê
dividido entre duas culturas: há as humanidades e as artes de um lado (associadas
tradicionalmente à cultura erudita) e há as ciências naturais e as tecnologias por outro lado
(SNOW, 2015). A leitura de textos literários clássicos leva o leitor frequentemente a um estado
de envolvimento mental, pelo espaço permitido para o belo, o lúdico, as fantasias e as emoções;
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da mesma forma, isto é possível ocorrer com a leitura de um bom livro de divulgação científica.
A sociedade atual tem no uso intensivo da imagem e do som uma das suas principais
características. Em particular, a ficção científica pode se tornar uma ferramenta didática pelo
estímulo à imaginação sobre questões originadas na ciência e na relação sociocultural das
pessoas com ela (PIASSI; PIETROCOLA, 2009). A ciência em geral – e a física e a astronomia,
em particular – devem fazer parte da formação cultural do cidadão contemporâneo,
independentemente das diferenças de interesses individuais que existem (ZANETIC, 2006):
esta é a bagagem de conhecimentos que temos, por fazermos parte do todo que chamamos de
humanidade. Apresentar o conhecimento científico acumulado pela humanidade para os alunos
da educação básica é sempre um desafio.
A linguagem audiovisual subjacente às novas Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC) permeia boa parte das relações entre as pessoas no mundo moderno, tanto
nas horas de lazer, como nas horas de trabalho: por isso é que há um grande potencial educativo
no uso de recursos audiovisuais, dado a sua participação na vida cotidiana (ATANAZIO;
LEITE, 2018).
A parceria entre a área de ensino de ciências e o estudo sobre como usar vídeos como
recurso didático vem se consolidando há bastante tempo. Os recursos audiovisuais têm sido
utilizados para ilustrar, apresentar e discutir ideias, princípios e conceitos científicos, de modo
a motivar, sensibilizar ou problematizar. Os vídeos, porém, precisam ser pensados do ponto de
vista da formação de leitores de ciências, não somente no sentido de leitores de textos verbais
e escritos, mas também de leitores de imagens em movimento e sons em vídeos (RAMOS;
SILVA, 2014). Neste sentido, é fundamental educar os jovens para o domínio da leitura do
simbólico (ALMEIDA, 2004), ou seja, para a leitura da televisão, do cinema, da fotografia, da
música, das imagens e dos sons.
Atividades de divulgação científica realizadas
Nesta pesquisa de caráter exploratório investigou-se como intervenções educacionais,
usando vídeos de curta duração e trechos recortados de filmes ou de documentários científicos,
podem contribuir efetivamente para a criação de novas dinâmicas de ensino e para a
aprendizagem de conceitos científicos importantes. A internet – e seus sites armazenadores de
vídeos como o
YouTube
com capacidade quase que ilimitada – é um “celeiro” para descobrir
materiais audiovisuais específicos da área de astronomia, que pela sua originalidade podem ser
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ferramentas educacionais poderosas e úteis.
Pelo tipo de linguagem e pelas imagens e sons apresentados, muitos vídeos científicos
sobre temas relacionados à astronomia podem de fato combater a indisposição existente entre
muitos alunos – em alguns casos, o sentimento é definido como sendo de “ódio”, nas palavras
de alguns estudantes – no que diz respeito à disciplina de física no ensino médio (MOREIRA,
2018). É paradoxal o fato de que a astronomia produzir um verdadeiro fascínio em uma parcela
considerável dos estudantes (e dos cidadãos em geral) e ao mesmo tempo a física – que na sua
gênese está intensamente relacionada à astronomia – produzir tanta aversão entre os alunos de
ensino médio: trata-se, em certo sentido, de uma mistura de amor e de ódio, voltados não para
o mesmo foco, obviamente.
A história da ciência foi uma parte importante dessa pesquisa, pois ela pode conferir
sentido ao ensino de ciências para crianças, adolescentes e jovens, em particular, com um
trabalho educacional que procure abordar temas da história da astronomia. O uso da história da
ciência na educação pode “humanizar” os conteúdos de ciências naturais ensinados, colocando
o estudante em um contexto que revela a complexidade da evolução histórica das teorias
científicas e das descobertas que aconteceram, permitindo compreender melhor os caminhos
geralmente não-lineares do processo de construção do conhecimento humano (EINSTEIN;
INFELD, 2008; WHITE, 2003). Trabalhar com a história da ciência em sala de aula é conferir
a devida importância ao valor cultural que a ciência tem em nossa sociedade; ela também
permite melhorar a compreensão das metodologias científicas de diversas áreas, enfatizando
assim o caráter diverso do conhecimento produzido pelas sociedades humanas (CHASSOT,
2014; PIASSI; PIETROCOLA, 2009; STANNARD, 2011).
Durante esta pesquisa, foram estruturadas e realizadas atividades educacionais de
divulgação científica, com o uso de materiais audiovisuais, em particular de vídeos. Os
resultados destas atividades foram avaliados tendo em vista os seus impactos e pela observação
atenta acerca de como elas transcorreram e das possibilidades de diálogo criadas com os
estudantes envolvidos. Deste modo, foram realizadas uma dezena de apresentações
audiovisuais de divulgação científica sobre ondas gravitacionais e as suas relações com buracos